Um Abismo

sábado, abril 25, 2009

25 de Abril

um cravo é um cravo
mas um cravo atravessado nas mãos do meu Pai
é uma revolução

quinta-feira, novembro 27, 2008

ÚLTIMO BEIJO

venho atirar
as pétalas do outono
- encher o teu chão
com o vermelho melhor do campo
:lábios bem tintos

19/10/2008

quinta-feira, outubro 30, 2008

AUSÊNCIA

não há mundo
:só a tua festa
as covas genéticas

e este castigo secreto

segunda-feira, setembro 29, 2008

AULA SOBRE PAIXÃO

um dia iluminado e pintado com rosas
enche a minha agenda com sorrisos
_________ o teu ________ nome religioso
faz a oração perante lençóis
de linho tecido e bordado
no altar da paixão


somos anjos e feras


18/02/2008

quinta-feira, setembro 18, 2008

JARDIM DO MUSEU

peguei na maçã já
com a primeira dentada
: assim tive a sobra
para comer deitada
nas lajes frias húmidas

terça-feira, setembro 16, 2008

INFÂNCIA

as tuas palavras sabem
a sumo de laranja doce

_____ aquelas das árvores do teu Pai


e lembram as pedras
onde sangravas os joelhos
morenos

12/08/2008

segunda-feira, setembro 15, 2008

TÍTULO INCERTO

setembro é um ferro quente
sem milagres é
uma arma que a estação guardou
para me rebentar o coração

sábado, setembro 13, 2008

OPERAÇÃO

escrevo-te um fragmento da minha pele
dou-te um pedaço de medula
um rim o sangue

transpiro o teu medo
e choro as tuas dores:

quero para ti os pés que calcam
as múltiplas flores do mundo

sexta-feira, setembro 12, 2008

A NATUREZA DO TEU OLHAR

tantos cravos à volta dos teus olhos
fazem o jardim e os sulcos
aproximam a tua expressão
do exuberante animal puro
e livre

deste olhar tiro o poema
e do meu sai uma cascata
de pétalas

terça-feira, setembro 09, 2008

ÊXTASE

quero fugir
com os teus dedos
dentro

domingo, setembro 07, 2008

FUSÃO POSSÍVEL

atravesso um quintal de lua
e morro quando entro no escuro
dos teus belos olhos

quinta-feira, setembro 04, 2008

CANTEIRO


uma nuvem caída
nas flores de setembro

quarta-feira, setembro 03, 2008

JARDIM

sou o teu animal ao fogo

quarta-feira, abril 23, 2008

ÚLTIMO QUADRO

- troco a minha língua pela tua e tenho
um di/amante no peito, pequena pedra dura e brilhante:
tira-te de mim como quiseres
29/11/2006

domingo, abril 06, 2008

DESEJO- Para João Barrento/ Balthus

- sabes que me deixei sonhar, sentada na penumbra das cadeiras, pernas geladas e tentando ler o livro, que muitas vezes me tapava e arreliava os seios? e tu, nessa ausência de mil horas
- mas que saudade é essa, se te ofereci seis posições onde podes
aventurar os meus dedos?
- sim, doce cavaleiro. setenta horas de silêncio é uma tempestade, é
um caos, um soluço, um ter-me feito a ti com a suavidade do fruto

26/11/2006

quarta-feira, março 26, 2008

ARDE OUTRA ÁRVORE

- vês? comecei a sentir uma espécie de fogo pegar-me a ponta da saia
e depois a navalha da saudade entre os seios; as tuas mãos a virem
plumas plumas, a lareira ateada, os teus dedos plumas de música, e num pânico,
sabes aquele medo de tecido queimado?,- arranquei tudo até ao lençol
onde se deitavam aquelas papoilas. e agora, aguardo-te
- sabes que sou um fruto que só se deixa cair no tempo certo
- o que é o tempo certo?
- é assim: agarro-te e é porque tenho medo que morras
antes de mim, antes da explosão da minha carne quando chega
à tua, para juntos afagarmos a terra
- e esta nudez sem papoilas, este outono? lança-me o teu sol e canta

segunda-feira, março 24, 2008

HORA DO SONHO

- ah, ficaram lisos os meus cabelos acariciados pelas tuas
mãos pequenas e tu não sabes, mas enquanto os apertavas e te detinhas no meu crânio, fui colher flores,num sonho, num instante
- dei conta do teu deleite e saberás que nesse momento era no meu corpo
que se erguia a árvore do mundo? e saberás também, que era a mim que colhias?
- cairei no teu chão, tão calmo és, pelo prazer de me sentir levantar
e se não me deres a mão para depois me sentares no teu colo, desce
então aos meus pés e ata-me neste silêncio de tinta
22-11-2006

terça-feira, março 18, 2008

OUTRO ACTO DE AMOR

- sou um livro aberto nesta cadeira encantada e não entendes
que o fogo que aquecerá a casa, não é esse que na lareira
agora tentas?
- deixa que o calor se instale e já trato de te descascar, figo
da minha vida
- estalo há horas, o meu vestido está cansado de esperar um
dedo teu que chegará e que tudo fará para que em qualquer dos meus tantos fundos, se instale. o quarto arde porque eu ardo e não porque
me viras costas e investes, teimas, em aquecer de vermelho
as paredes e eu aqui. e eu aqui sempre. sabes de que quadro falo?

domingo, março 09, 2008

ESTAMOS FECHADOS NA VIDA

- sentes, ó divino, o cheiro que me contorna
quando enfio os olhos nos teus lábios e fico uma
borboleta a espreitar a tua mão fechada?
- queres música? ou que lance primeiro o dedo no mapa
do meu corpo?
- tanta terra. são abundantes os teus sulcos
e quero derramar-me, um a um. quero que tu vaciles
entre uma montanha e outra, enquanto escalas
a lâmina da minha carne
para mais tarde caires
17/11/2006

domingo, março 02, 2008

UM POMAR DE CARNE

- não sei imitar a tristeza, agarrada nestes lençóis de veneno
e asas de anjo, ou são flores do paraísoas que me entrelaças nos cabelos?
- cala o arco da tua boca sumarenta e aproveita este ramo que te estendo,
todo orvalhado, pobre de mim, que fui feito para te receber. lembras-me
sempre as laranjas apanhadas pelo meu pai, na casa de campo. sinto, por ti, a gula da infância
- é o que nos faz parecidos, talvez, com o chão: camada mais funda e abundante. não sei não sei. cada vez mais não sei o rio do instante
16/ novembro/2006

domingo, fevereiro 24, 2008

DEITAR-ME NESTE VENDAVAL

- esta noite quero o caos, não esta língua
que me dá a volta à cintura, nem esses teus olhos
de barro que tentam, tão vorazes, que eu não sinta
medo do mundo
- mas perdes lágrimas? deitas às feras a força que
te dou?
- não te preocupes. quando o sol começar a furar
as paredes do quarto, já estarei aberta: feliz nos teus ramos
frondosos e terei a pele orvalhada, os cabelos enlaçados
nas tuas folhas frescas
- estaremos exaustos de chover um no outro e
o teu medo não passará de mais uma das estações
em que nos aguardamos

domingo, fevereiro 17, 2008

DÁDIVA

- estendo a minha carne ao teu orvalho e não te peço
mais do que isto: que me deixes
ser eu a penetrar a tua raiz com o tempo todo
de uma estação de vivaldi e a tua árvore
com o seu odor verde derramará
o seu doce e alvo mel
(02/11/2006)

sexta-feira, janeiro 04, 2008

Nova ortografia

faz-se alguma confusão
com o novo acordo ortográfico
e com a palavra amor

escreve-se acompanhada
pelo teu nome ou basta
chamar-te?

quarta-feira, janeiro 02, 2008

REPETIÇAO DOS DIAS

o medo com as suas rosas
selvagens é o rubor da esperança
e do nada _________ uma caravela
passada faz-me sentir na segunda
vida

sexta-feira, dezembro 28, 2007

PRENDA DE NATAL

sou a tua menina dou-te
um pé de flor uma curva
de mar ou anca. e o tempo:

com luz e chuva e os rios
do verão

terça-feira, dezembro 04, 2007

À NOITE

as vozes da carne chegam
mais longe do que a música
do poema

segunda-feira, novembro 26, 2007

INSÓNIA

meto-me na madrugada a cantar
a gritar ______ a ladrar o teu nome
e danço para que nesta ficção de véus
me sintas subir ao teu mais alto
ramo e em mim encontres as pétalas
deslocadas no ardente e ingénuo
desejo de um beijo

domingo, novembro 25, 2007

NOITE MAIS ESCURA

cheira a chuva no sobrado restaurado
deste quarto e é nele que estendo
as folhas da língua
à procura do teu corpo

esta é a casa da infância:
há um bolor onde abro
as gavetas da saudade
e delas saem as facas
desta inocente vontade de te amar
em colchões de pó

a verdadeira terra era a da tua
casa de campo

sábado, novembro 24, 2007

BOTÃNICA

cresço a erva que sou
rente ao teu caule

sexta-feira, novembro 23, 2007

VESTIDO NEGRO

visto-me com as cores
das capas dos teus livros
e ninguém percebe que amo
a verve nos teus poemas

talvez venhas e tires
aquele que me esconde o coração